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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Whatever works

Será que dois "super-egos" judaico-niilistas, narcisos e partidários da auto-comiseração, cabem no mesmo filme? Está bem que Woody Allen em alguns dos seus últimos filmes divergiu do estilo obsessivamente centrado em si próprio, nomeadamente em Match Point. Neste filme constrói mesmo um protagonista que é a antítese de si próprio, qual Cálicles, personagem que Platão inventa em “Górgias”, para quase destruir a sua própria doutrina nesse diálogo socrático. Em Match Point é a mera sorte que se opõe à justiça universal, protegendo o protagonista contra todas as vozes de um coro grego que gritam nas nossas consciências, mas vergam-se no fim, face a um filme impecavelmente amoral. Sem artifícios, sem penas, sem efeitos secundários. Apenas o som trágico de algumas árias de ópera adornando o passing shot sobre o espectador impotente. E deu-me a sensação que Allen estava ali connosco, partilhando esta impotência da condição humana, mais filosófica, menos pseudo-intelectual. Mas será que este animal mitológico Allen-David terá asas para voar? Como dizia Sérgio Godinho “pode alguém ser quem não é?”
A verdade é que Woody Allen continuará a ser Woody Allen e de Larry David nem se fala. Será que menos com menos dá mais? Não sei, estou céptico quanto ao resultado, mas enfim, “whatever works”, como já nos vão avisando no próprio título do filme.

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